Relato da viagem missionária
Saber
que Deus está no controle de todas as coisas, foi extremamente necessário
nos dias em que estivemos a disposição D’Ele para o reino, tanto no
Sul do Brasil, como na Argentina e Bolívia.
Trinta
e três pessoas, de igrejas diferentes, sob a coordenação da Assembléia
de Deus da L2 Sul, foram selecionadas por Deus para estarem juntas,
durante 19 dias, falando, cantando, pregando, evangelizando e orando
em terra natal (Brasil) e outras terras (Argentina e Bolívia), percorrendo
10.322 km
Se
olharmos do ponto de vista humano, não vamos conseguir compreender
os mistérios de Deus nessa empreitada missionária, mas ao analisarmos,
pela nossa limitação, o trabalhar de Deus, vemos que Ele, em Sua infinita
Sabedoria, separou um a um, inclusive a empresa com os seus motoristas,
para estarem juntos e serem alvos do agir de Deus. O Senhor não queria
apenas salvar vidas através de nós, mas principalmente trabalhar em
nós.
Ainda
em Brasília, recebemos um roteiro que a princípio seria seguido a
risca; no entanto, ao chegarmos ao Sul do Brasil (Paraná e Rio Grande
do Sul), deparamo-nos com barreiras de agricultores revoltados com
o descaso do governo para com eles e, fomos impedidos, por diversas
vias, de seguirmos conforme o previamente traçado. Embora tentássemos
alternativas, acabávamos em novas barreiras. Nossos líderes desciam,
andavam longas distâncias para tentar negociações, mas tudo parecia
em vão, até que desistimos de procurar atalhos. Começamos a louvar
a Deus, como já fazíamos desde a saída (todos os dias tinha culto
dentro do ônibus) e descansamos no Senhor, enquanto os líderes continuavam
a negociar. Então, pudemos ver o grande “Eu Sou” agir. As barreiras
começaram a se abrir. Enquanto caminhões, automóveis populares e outros
ônibus ficavam parados, para o nosso era permitido a passagem. Em
um determinado local do Rio Grande do Sul, até buracos foram tapados
para que nós passássemos. Grande foi nossa alegria em ver que o Papai
estava ouvindo nossas orações.
O
resultado de tanto atropelo foi que duas das rotas tiveram que ser
cortadas. Alguns desgostos aconteceram, mas a Palavra começou a nos
falar que “... os meus pensamentos não são
os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz
o Senhor” (Is 55.8) e, quem teve ouvido para ouvir o que
o Espírito estava falando à igreja, entendeu e aceitou com resignação
e humildade a nova rota dada por Deus.
A
primeira parada se deu em Ijuí-RS. Ali descansamos no acampamento
Peniel e os primeiros cartazes de corinhos, em espanhol, foram preparados.
A segunda parada se deu em Uruguaiana-RS. Lá participamos do culto
e distribuímos folhetos nas redondezas, falando do amor de Cristo
aos que passavam. Estava muito frio! Tivemos uma idéia do que nos
esperava na Argentina que estava mais fria ainda. Mas nada nos desanimava.
Nossos corações estavam transbordantes de alegria em Cristo.
Adentramos,
após alguns transtornos, na Argentina e nos dirigimos para Gualeguaychú
(lê-se: Gualeguaithu). Um grupo de crianças (essas
eram os únicos membros da igreja) e o casal de missionários, nos receberam
com cântico. Foi lindo!
No
dia seguinte, a liderança traçou as estratégias de evangelismo e dividiu
a equipe em sete grupos.
Gualeguaychú é uma cidade muito idólatra, com muitos terreiros de macumba. Tambores
fazem barulhos durante as noites. Há muitos drogados e alcoólatras.
Sentimos o peso no ar. O pastor local nos avisou da situação e, antes
da evangelização, realizamos uma oração, com unção. Utilizamos o texto
de Efésios 6, para pedir cobertura do Senhor, não só a nós, mas aos
nossos que estavam no Brasil e saímos com fé na proteção divina.
Começamos,
em jejum, a evangelizar de 9h até às 16h. Sentimos a dificuldade da
língua. Gentilmente, a recém amiga do grupo, Mis. Anete, passou a
nos ensinar um pouco de espanhol para que falássemos, pelo menos,
o necessário do Amor de Cristo àquele povo. Embora houvesse a dificuldade,
particularmente, percebi que se falasse pausadamente e cortasse algumas
conjunções, o entendimento era maior e, assim, Deus operou.
O
que nunca havia feito antes, fiz ali naquela cidade. Evangelizei em
um bar. Embora as pernas tremessem e um frio passasse pela barriga,
o calor no coração me levou a enfrentar a situação. A primeira pessoa,
um jovem, negou receber a palavra e não quis nem o convite para o
culto. Pensei em sair dali. Eu estava só. As companheiras de equipe
estavam em uma casa vizinha e o companheiro estava com um grupo de
crianças, mas Deus me impeliu a continuar e, aproximei-me de outro
grupo, que receberam a mensagem e um deles foi salvo, no culto da
noite.
Começamos
o culto na hora marcada e, aos poucos, as pessoas foram chegando,
eram adultos e crianças, embora não muitos. No templo estavam
os adultos e no salão ao lado foi montado um culto exclusivo para
as crianças, com bonecos (títeres, em espanhol), cores e símbolos.
O que antes era inquietação, conversa e bagunça, deu lugar à atenção.
O olhar fito das crianças, demonstrava a aceitação da Palavra e o
agir de Deus. O que vi ali, jamais esquecerei! Enquanto isso, na igreja,
Deus agia em todos. Eu e outras missionárias estávamos um pouco divididas:
atendíamos tanta a igreja, como o salão. Foi bom, porque a alegria
dobrou. Ao final do culto, 10 pessoas, fora as crianças, aceitaram
a Cristo.
Convidados
pelo pastor, alguns irmãos da caravana foram até a casa dele (Família
Serón) e lá contemplaram, em cartazes, o pedido de salvação para dez
vidas. Deus confirmou a sua presença conosco, e atendeu pela Sua misericórdia
ao pedido do casal. Mais tarde, soubemos que mais duas vidas aceitaram
também.
Nesta
mesma noite, partimos em direção a Bolívia. No entanto, como os nossos
planos não são os de Deus, Ele nos fez parar, ainda na Argentina,
em Corrientes, uma linda e próspera cidade. O ônibus quebrou uma correia
e um dos motoristas, com a ajuda de um moto-boy foi à procura. Após
algumas idas e vindas, desacertos de correia e a tarde ter passado,
o ônibus ficou pronto. Foi quando ao falarmos de Cristo àquele homem,
moto-boy, ele foi salvo pela graça de Deus. Era um desviado que já
havia estado no Brasil. Foi uma tarde inteira para uma conversão e
uma grande festa no céu!
Na
Bolívia, ficamos concentrados em Cochabamba (lê-se: Cotiabamba) e
demos apoio a sete outras igrejas, até um raio de 40 km. Lá
ficaram Mauríco e Fátima, um casal de missionários, levados para esse
fim.
Foram
realizados evangelismos em hospital, redondezas das igrejas, praças,
áreas de serviços sociais e feiras. Cerca de 80 pessoas foram salvas
e muitos outros foram fortalecidos na fé, com as visitas e testemunhos.
No
hospital Combase, havia um homem que os médicos diziam não saber como
escapara da morte, após ter recebido 7 tiros. Esse homem foi alcançado
por Jesus e reconciliou-se com Ele. Essa, com certeza, foi a razão
dele não haver morrido. Deus lhe concedeu outra chance, assim como
tem feito com muitos de nós.
A
Bolívia é um país, praticamente, indígena e, como tal, também carrega
os costumes indígenas. Há muita droga, idolatria, ritos e superstições.
Uma delas é que se tirar fotografia perde-se a alma. Também os seus
costumes quanto a higiene são bem diferentes dos nossos. Não se toma
banho constantemente, nem mesmo se lavam as mãos corriqueiramente.
Na periferia (mais indígena), há muito piolho e doenças. A água é
contaminada e não se deve bebê-la sem uma fervura bem feita, por isso,
levamos água daqui. No entanto, o povo é caloroso e receptivo, embora
muito desconfiados de estrangeiros, principalmente pelo preconceito
com que são tratados.
Nosso
grupo, conhecendo a situação, tratou de amar aquelas pessoas, dentro
da realidade delas. Embora não tenha sido fácil comer algumas iguarias,
tão diferentes para nós, como peixe recheado com tripa de frango e
língua mal passada, com um esforço foi possível agrada-los e fazer
com que recebessem a Palavra de Deus.
Embora
haja muitas pessoas de posse, milionárias mesmo, como um senhor que
tive o prazer de conhecer, eles não ostentam luxo em si mesmos, mas
o fazem em suas residências, que são verdadeiros palacetes. Andam
mal trapilhos e por vezes não cuidam da saúde, por ser toda paga (não
há serviço público de saúde), para não entregar ,a outros, aquilo
que conquistaram.
Encontramos
muitos brasileiros, principalmente, estudantes de Medicina, pois na
Bolívia, além de ser mais barato, não se faz vestibular. Para ingressar
em qualquer faculdade, basta ter concluído o Ensino Médio (2º grau).
Há, por isso, uma verdadeira adoração ao governo patriota, que inclusive,
envia jovens para estudarem em outros grandes centros universitários
exteriores, com tudo pago.
Nesse
local de desigualdades, como também há em nosso País, riqueza convive
lado a lado com grande pobreza, mas Deus ama a todos e tem operado
em todos.
De
volta para o Brasil, passamos por Foz do Iguaçu, e lá conhecemos a
Igreja Brasileira para Árabes. Deus tem trabalhado em famílias islâmicas
e salvo, principalmente, as mulheres e as crianças. A grande dificuldade
é que estas não podem contar para seus maridos, pois correm o risco
de uma separação e perda, definitiva, de seus filhos. Há mulheres
que se converteram há 10 anos e cultuam a Deus, durante o dia, para
não serem descobertas. Isto faz com que o casal de pastores, sejam
seus “ombros” para tudo, o que acabou por trazer depressão a eles.
A força, porém, vem de Deus e eles continuam a realizar a obra, agora
com uma escolinha de futebol, preparando pessoas para missões em países
islâmicos. Orem por eles e pelo trabalho!
O
resultado de tudo, não posso medir, nem acredito que algum de nós
possa. O único capaz de mensurar essa obra é Deus. Tudo veio D’Ele
e foi feito para Ele. Porém, se me perguntarem: você iria novamente?
A resposta seria imediatamente: Sim. Mesmo que para passar frio, utilizar
as margens das vias como banheiro, ficar três dias sem tomar banho,
usando apenas lenços umedecidos, comer sem arroz, sem feijão, dormir
em banco de ônibus, cansar, sentir saudades... Faria tudo novamente,
por Deus, sendo essa a Sua vontade para a minha vida.
Embora
eu pertença a uma igreja missionária e saiba que todos os crentes
são, por Deus, constituídos de uma missão nessa terra, nunca havia
pensado em sair do meu País para uma tão grande obra. O meu coração
sempre se comoveu nos testemunhos dos missionários em ocasiões de
conferências ou visitas e costumo orar por eles, também contribuo,
não como deveria, mas o faço esporadicamente (houve um tempo em que
fui mais fiel) e, de repente, recebo um convite, acompanhado de um
presente do céu para a minha vida. Eu achava que estava fazendo muito
em ser vice de um departamento, regente de um coro, corista em outro,
seminarista, auxiliando aqui e ali, mas Deus mostrou que o que tenho
feito não é nada em relação a necessidade do campo. Realmente “a
seara é grande, mas os trabalhadores são poucos” (Mt. 9.37).
Não estou dizendo com isto que estou pronta, mas que estou a disposição
do que Deus quiser, quando quiser e como quiser.
Agradeço
a Deus pelo privilégio de ser uma na caravana (e não mais uma), pelo
meu marido (Tércio) e filhos (Letícia, Leandro e Léo Victor), que
me apoiaram desde o início e que oraram comigo e por mim, segurando
as pontas da saudade, pelo meu pastor Natanael Nogueira e esposa Nilma
que confiaram em mim, pelo pastor Willian Iack, usado por Deus para
me abençoar, por todos os irmãos que conheci, por tudo o que fizemos
em prol do reino, embora isto tenha sido apenas o começo, pelo Conjunto
Novo Alvorecer (eu as amo), pelo Departamento de Missões e por todos
que oraram por mim.
Que a honra e a glória, sejam dadas a Deus hoje e sempre, amém!
Léia
Ribeiro Tonete
Gama-DF, junho de 2006
Vejas
as fotos da viagem